Há milhares de anos além das transformações
geológicas em curso a terra passou por um longo resfriamento, a “era do gelo”.
Como toda água esteve congelada o planeta ficou seco, depois o gelo derreteu e
toda água inundou a área onde hoje é o sertão nordestino fazendo surgir uma
floresta tropical úmida.
Com
as sucessivas transformações climáticas, essa floresta passou a ter cada vez
menos água e teve que se adaptar, da adaptação dessa floresta úmida surgiu a
caatinga. Fazendo
uma analogia, seus animais são menores e as arvores são cheias de
espinhos e baixa; sem água tudo ficou mais escasso, com pouco alimento e poucos
nutrientes tudo diminuiu. Na falta de alimentos os animais grandes começaram a
comer menos e assim diminuíram, porque animais menores precisão de menos
energia e sob o ponto de vista evolutivo, estes se tornaram exclusivos da caatinga.
As plantas da caatinga possuem raízes superficiais e em vez de desenvolverem
folhas perenes que sugam muita água passaram a ter espinhos. Assim toda a
natureza teve que se adaptar para viver com pouca água.
Como podemos observar a história da caatinga é
muito antiga e acompanhou os principais processos geológicos e geomorfológicos da terra; além dos processos históricos do desenvolvimento
humano, como a criação da agricultura e seus efeitos com a exploração colonial europeia, especialmente a partir do século XVII.
Os
colonizadores quando chegaram a estas terras logo perceberam que as chuvas se tornavam irregulares a medida
que avançavam ao interior, então eles criaram uma lógica econômica para a
sociedade em expansão: a pecuária extensiva o mais distante possível da cana de
açúcar, cultivada na zona da mata, pois “o boi vivo e a cana verde” não podiam
ocupar o mesmo espaço e a agricultura de subsistência junto ao gado desbravaria
e ocuparia as terras da caatinga.
Esta
expansão colonial para o interior sem ferramentas ou técnicas sofisticadas de
produção material e social do espaço criou-se um personagem célebre do
semiárido nordestino popularizado pelos inscritos de Euclides da Cunha em Os sertões quando afirma que “o
sertanejo é, antes de tudo, um forte”, porque se a caatinga é adaptada à
escassez de água, o sertanejo é adaptado à caatinga, a espera ou a chegada das
chuvas constitui todo o seu sonho, toda a sua esperança, o seu projeto de vida.
Hoje,
ainda carente de infra-estrutura e investimentos que privilegiem a convivência
com a semiaridez, prevalecem práticas primitivas de uso do solo e dos recursos
naturais da caatinga que além de provocar sérios problemas ambientais tornou-se
um entrave sócio-econômico e cultural caracterizados por palavras subjetivas do
tipo: rústico, truculento, medieval, seco, pobre, enfim todos os adjetivos
pejorativos e preconceituosos que hostilizam o sertanejo e o seu habitat, a
caatinga.
Como
afirma o escritor Marcelo Tabarelli no livro Ecologia e conservação da caatinga “a vegetação da caatinga não
apresenta a exuberância verde das florestas tropicais úmidas... Para desvendar
sua riqueza, é necessário um olhar mais atento, mais aberto. Assim ela revela
sua grande biodiversidade, sua relevância biológica e sua beleza peculiar”.
Há
vários motivos que justificam o estudo e a conservação do único bioma exclusivamente brasileiro e que são
defendidos pelos estudiosos:
- · A caatinga é a única grande área natural brasileira, cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional ocupando 895 mil km2, correspondente a 11% das terras do país.
- · A caatinga é proporcionalmente a menos estudada entre as regiões naturais brasileiras, com grande parte do esforço científico estando concentrado em alguns poucos pontos em tono das principais cidades do semiárido.
- · A caatinga é a região natural brasileira menos protegida com mais de 70% da sua vegetação alterada e menos de 1% protegida em unidades de conservação.
- · A caatinga continua passando por um extenso processo de alteração e deteriorização ambiental provocado pelo uso insustentável dos seus recursos naturais, o que está levando a rápida perda de espécies únicas e a formação de extensos núcleos de desertificação em vários setores da região.
faz-se necessário conhecer a o bioma caatinga e procurar estabelecer uma nova visão, despida do
preconceito quanto aos aspectos de aparente pobreza da paisagem e dos
brasileiros que vivem no semiárido.
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