domingo, 27 de dezembro de 2015

Espaço Vital


Luciano Francisco de Melo

Nosso espaço vital é tão finito!
O tempo funciona como uma corrente 
Que prende, mas dá liberdade ao espirito
Para ir ao infinito formador da mente
A procura de explicação para a essência da vida     
O elo, a ânsia que a gente sente de conquistas,
Toda forma de experiência 
Que torna o homem criador
Um ser inteligente.
Procuro a cada instante cronológico
Uma forma de ir ou de voltar no tempo
Uma viagem impossível é lógico,
Mas de fácil acesso via pensamento.
Um meio de transporte abstrato 
Como muitos em outro momento
Quando ainda inato
Estacionado no conhecimento.
Ideologia de espaço sistematizado pela vida.
O “empirismo no futuro” 
Em um planeta avançado 
Como um fruto bem maduro;
Superamos a era digital!
Surgem novas fontes de energia 
A partir de um projeto original
Criativo quando tudo se erguia.
O planeta altamente urbanizado
Impõe um maior planejamento
E as cidades cada vez mais verticalizadas
Acredita-se emergir o empreendimento.
Os oceanos não são mais os de outrora
Resultado de uma natureza desgastada
“Escurecem a beleza da aurora”. 
A vegetação desmatada
Dificulta o processo fotossintético 
Sendo compensado cientificamente
Por meios inorgânicos ou sintéticos.
As enfermidades assolam a população
Civilizados usufruem mutuamente 
Dos métodos que seriam de dominação
Vendo sua pele arduamente
Ser consumida pela radiação.
Neste cenário de hostilidades
O que pensar da ciência? 
Afinal, brincamos de Deus na criação.
Consumimos todos os recursos ditos renováveis
E hoje lutamos contra a extinção
Diante de um “fracasso racional de acumulo e desintegração”.
                                                 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Personalidade

Luciano Francisco de Melo

Talvez eu não seja como querem
Tudo! A vida, os caracteres físico-culturais,
A maneira de ser ou agir que me inserem
Parece desmaterializar junto aos valores morais.

Tudo que um dia fui ou virei a ser
Nesse momento torna-se tão vago.
Procuro nas coisas mais simples uma razão para crer,
Um sentido, a essência, um gesto de afago.

Um humano inteligente é capaz de perceber
Em meio aos defeitos do próximo
Toda uma “beleza desfigurada em seu ser.”

Sou apenas mais um, como tantos “ninguém”
Que procura humildemente o encantamento
Que torna-me transparente aos olhos de alguém.

                                

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

“Poço Dantas: Presenças indígenas na zona rural do Crato-ce”


Luciano Francisco

        Hoje a singularidade presente nas identidades culturais, locais e regionais, está ameaçadas e correm o risco de serem esquecidas. Então, promover o (re) conhecimento, pesquisar, valorizar e registrar as memórias que permitem conhecer a história local é ponto de partida para fortalecer identidades e o sentimento de pertencimento a uma determinada sociedade.  
            O Estado do Ceará tem origem fortemente vinculada aos povos indígenas, O próprio nome do Estado provém de "ciará" ou "siará", que significa "canto da jandaia", que na linguagem tupi é um tipo de papagaio.
Um decreto da Assembleia Provincial do Ceará, em 1863, declarou que não haviam mais índios na província. Então eles passaram a ser desacreditados, perseguidos e tiveram suas terras invadidas; somente na década de 1980, os índios cearenses começaram a reivindicar seus direitos de posse de terra e o reconhecimento de suas etnias. 
De acordo com dados da FUNAI, o Estado  do Ceará tem 15 etnias indígenas reconhecidas com uma população de 22.579 indígenas que se encontram  principalmente nos Municípios de Poranga, Aquiráz, Crateús, Trairi, Itarema, Maracanaú, Pacatuba, Viçosa do Ceará e Caucaia.
 No Sítio Poço Dantas, distrito de Monte Alverne, situado na zona rural do município do Crato os remanescentes da tribo Kariri iniciaram um processo de luta pelo reconhecimento perante a FUNAI. A comunidade, segundo os moradores, em virtude de terem sido historicamente discriminados passa agora por um processo de auto-reconhecimento; ainda não foi devidamente recenseada como indígena, contudo acredita-se que em torno de 50 famílias remanescentes dos índios Kariris habitem o lugar.                                                                                                                                     De acordo com Vanda, moradora (do Crato) que se reconhece como Kariri, “os trabalhos de pesquisa e de auto-afirmação dos índios na comunidade de Poço Dantas  teve inicio no ano de 2008 por intermédio de Rose Kariri, estudiosa e ativista da questão indígena,  que veio de São Paulo para tentar identificar a tribo, seus costumes e tradições”. Quando esteve na região à procura de remanescentes dos índios Kariris, sua primeira providência, segundo Vanda, “foi ir até um cartório para verificar os registros de nascimento de pessoas com o sobrenome Kariri”. Na ocasião se discutiu muito na comunidade sobre o processo de organização e de fortalecimento da identidade indígena.                                                                             Atualmente esses remanescentes sofrem com os impactos da obra do Cinturão das Águas (desmatamento da vegetação nativa e de árvores frutíferas, derrubada de cerca, demolições de moradias  e a ausência de indenizações para os moradores atingidos), muito do que foi debatido e planejado não foi realizado e a comunidade permanece desarticulada – sem uma Associação Comunitária definida e registrada, ou qualquer entidade que represente e defenda os seus interesses perante o Poder Público.                                                                                                             
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA                                                         
ARAÚJO, Pe. Antônio Gomes de. O povoamento do Cariri. Crato:Faculdade de Filosofia do Crato,1973.
BARROSO, Oswald. Reis de Congo.
FIGUEIREDO FILHO, J.de.O folclore no Cariri.Fortaleza: Imprensa Universitária, 1962.
HOLANDA, Arlene.Todas as Cores do Negro. Brasília-DF: Conhecimento Editora, 2008.
MACEDO, Joryvar. Povoamento e povoadores do Cariri cearense. Fortaleza: Secult:1985.
NUNES, Cícera. Reisado Cearense Uma proposta para o Ensino de Africanidades ,Fortaleza-CE: Conhecimento Editora,2011.
PINHEIRO, Irineu & FIGUEIREDO FILHO, J.de. A Cidade do Crato.
FARIAS, José Airton de. História do Ceará – Dos Índios à Geração Cambeba. Fortaleza: Tropical Editora, 1998.
Ceará, Nossa História. São Paulo: Moderna, 2011.
SANTOS, Elizângela. Índios Kariri lutam por reconhecimento da tribo. Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/indios-kariri-lutam-por-reconhecimento-da-tribo-1.127736; acessado em 09/09/2015.



professores da Escola no José Alves na comunidade Poço Dantas. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A revolta de Joaquim Pinto Madeira


Luciano Francisco

      O lendário Pinto Madeira nasceu no ano de 1783 no povoado de Barbalha. Foi militar e um bem sucedido proprietário rural. Homem rústico e conservador foi também chefe político na vila de Jardim, usufruindo, portanto de certa influência entre as elites do Cariri do século XIX. Sua influência pode ser notada pelo fato de ter defendido cegamente o império atuando contra os movimentos rebeldes ocorridos em Pernambuco e em Crato nos anos de 1817 e 1824 (a chamada Confederação do Equador) que apresentavam ideais republicanos.                                              
          Sua conduta política e revolucionária lhe rendeu sérias hostilidades entre as elites Caririenses, em especial a cratense que era fortemente influenciada pela família Martiniano de Alencar. As rivalidades entre Jardim e Crato tiveram inicio, a partir do interesse de emancipação do povoado de Jardim à Vila e sua desintegração, portanto, da vila do Crato.                                                       Como líder político e defensor da monarquia, Madeira traçou junto à luta contra os republicanos cratenses e as revoltas de 1832, o seu leito de morte. Suas façanhas passam a incomodar as elites, daí o Conselho do Governo Regencial coloca a premio a cabeça dos lideres revoltosos (a saber – padre Antônio Manoel de Sousa e Pinto Madeira) forçando-os à rendição, pondo um fim a rebelião. A rendição de Pinto madeira se deu em negociação com o General Pedro Labut, responsável pela missão de acabar com a rebelião, de lhe assegurar a garantia de proteção a sua vida e de que o seu julgamento fosse feito no rio de janeiro perante a Regência. No entanto as promessas não foram cumpridas e pinto madeira foi preso, julgado e condenado no Crato.               De acordo com Borges (1997) “consoante Ireneu Pinheiro, o juiz de direito interino – José Vitoriano Maciel – e os jurados que constituíram o júri que condenou Pinto Madeira à forca eram seus inimigos”. Isso justificaria o fato de o réu, Pinto Madeira, não ter sido julgado pelo crime de rebelião e liderança dos revoltosos de 1832 (pelo menos, esses não foram considerados os maiores dos seus crimes), e sim ter sido acusado pelo assassinato de Joaquim Pinto Cidade ocorrido na batalha do Buriti, em dezembro de 1831, em Barbalha.                                             
     Segundo historiadores, Madeira negou a autoria do crime, mas foi condenado a forca em 28 de novembro de 1834. Como era militar ele pediu as autoridades presentes para que a sua execução se desse por fuzilamento e não por enforcamento. Seu ultimo pedido foi concedido e, Joaquim Pinto Madeira foi fuzilado na localidade do alto Barro Vermelho, hoje bairro Pinto Madeira, “ironicamente” em sua homenagem.                                                          
       “Destemido até o ultimo momento e ultimas consequências, Pinto Madeira passa à História como um exemplo de devotada coragem a uma causa”(MACHADO, s/d, p.28). A cidade do Crato guarda paradoxalmente a memória daquele que foi o seu maior inimigo; e o sertanejo o reverencia como uma espécie de mártir, dado talvez as circunstancias da sua morte.                                 No local fúnebre foi construída uma pequena praça, bem iluminada à noite, e ao centro foi erguido um cruzeiro de madeira sem qualquer referência a pessoa e ao acontecimento que se deu ali. As pessoas passam pelo local, alguns colocam santinhos, acendem velas em determinados momentos de adoração, mas a grande maioria delas, não se dá conta do significado daquele monumento.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BORGES, Raimundo de Oliveira. Memória Histórica da Comarca do Crato. UFC – Casa de José de Alencar, Programa Editorial, 1997.
FIGUEIREDO FILHO, J. de. História do Cariri. v.I (capítulos 1-5). Edições URCA – Fortaleza: Edições UFC, 2010.
FIGUEIREDO FILHO, J. de. História do Cariri. v.II (capítulos 6-9). Edições URCA – Fortaleza: Edições UFC, 2010.
PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará,1963.                                      
LEITE, Maria Jorge dos Santos. A influência das revoltas liberais no Cariri cearense e a “sedição de Pinto Madeira” Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1370911412_ARQUIVO_PintoMadeira.pdf . acessado em 03/03/2015.
MACHADO, Ana Lucia. Grandes Nomes do Cariri. Jornal do Cariri – Editora e Gráfica Cearasat s/d.