Luciano Francisco de Melo
As reflexões abordadas aqui são
inspiradas na obra do educador Paulo Freire a partir de uma entrevista realizada
pelo programa Salto Para o Futuro da TV Escola realizada no ano de 1997. Ano em
que vitimado por um infarto, o Brasil perde o seu mais renomado pedagogo. A escola para Freire não tem outro
objetivo senão ensinar o aluno a fazer a leitura do mundo para poder
transforma-lo. Em suas obras, a exemplo da Educação como prática da liberdade
(1976), ele enfatiza a questão da liberdade para aprender; a democratização do
ensino; e a ação modeladora ou facilitadora do processo de interação dos
diversos atores que compõem a escola no âmbito interno e externo. Atores esses,
que contribuem decisivamente para que a escola aconteça em “benefício de todos
e para todos”, como diria o mestre – uma Escola Cidadã, maleável no sentido
mais nobre da palavra e aberta á comunidade.
Paulo Freire, em seu último livro publicado
em vida – Pedagogia da Autonomia – aborda, dentre outras questões, alguns
saberes fundamentais, permanentemente presentes na prática pedagógica. A partir
da leitura dessa obra, a compreensão do contexto pedagógico e social do
conteúdo cuidadosamente trabalhado pelo autor, com princípios ideológicos há
tempos pré-estabelecidos e “bem repassados”, torna-se viável o desenvolvimento
de sua proposta – A “formação de uma mentalidade democrática entre nós”.
Os saberes fundamentais discutidos
no livro são basicamente dois – “Mudar é difícil, mas é possível; e Saber
escutar”, ambos de caráter social e voltados para a prática pedagógica; construídos
ideologicamente ao longo do tempo e das gerações. Pensando as mudanças sob a
ótica das Ciências Humanas, pode-se dizer que somos seres humanos, animais que
se diferenciam dos demais pelo telencéfalo altamente desenvolvido e pelo
polegar opositor; que habitam um planeta de gigantesca dimensão há 500 anos e
agora ver literalmente esse espaço diminuído diante do avanço tecnológico, conseguido
a duras penas e em tão pouco tempo se analisado sob o ponto de vista da
evolução do homem. Assim, nos faz refletir David Harvey (1993, p. 220) através
do seu famoso esquema de representação do encolhimento do mapa mundial, graças
às inovações nos meios de transportes. Com
o modelo de globalização atual, as relações políticas, econômicas e sociais
tornaram-se voláteis, pois diminuem-se os espaços e o tempo para percorrê-los. Nas
últimas décadas do século XX, houve um grande avanço nos meios de transportes e
nas telecomunicações que foram fundamentais para a consagração e ampliação dos
blocos econômicos supranacionais. Nesse período as fronteiras nacionais foram
rompidas pelo Neoliberalismo, um dos pilares da globalização que a partir da
ação das transnacionais e de instituições financeiras globais (a exemplo do
BIRD e FMI) tiram a identidade do Estado e manipula político e economicamente
seus concidadãos. Não
se pode negar! De fato há mudanças. Contudo, nessa evolução em curso, as
transformações são direcionadas historicamente para o interesse dos donos dos
meios de produção e do grande capital. Contudo, do ponto de vista da cidadania
e do sistema educacional vigente, são colocadas “máscaras do progresso” (Cursos
Técnicos, empregos, automação, propagandas de incentivo ao consumo, arranha-céus,
automóveis, etc.), contraditoriamente, afim de que o sistema capitalista dê a
falsa esperança de que pode atender às necessidades das massas. O
fundamental é acreditar na mudança a partir da valorização da contribuição
mínima de cada indivíduo dentro ou fora da escola, nas comunidades; indivíduos com
características culturais diferenciadas dentro de uma mesma sociedade, mas com
visão de mundo sensível aos problemas que assolam as populações por interesses
diversos. Para Paulo
Freire, “a escola cidadã é aquela que se assume enquanto um centro, um centro
de direitos e um centro de deveres, a formação que se dá dentro do espaço e do
tempo que caracterizam a escola cidadã é uma formação para a cidadania”. Sendo
assim, esclarece o Mestre que “a satisfação das necessidades das crianças e dos
jovens no âmbito das competências do município, pressupõe uma oferta de espaço,
equipamentos e serviços adequados ao desenvolvimento social, moral e cultural a
serem partilhados com outra geração”. Educação de qualidade é indiscutivelmente
sinônimo de consciência, liberdade e de qualificação no cenário econômico
atual.
Referências
HARVEY, David.
Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 3º ed.
São Paulo: Loyola, 1993, p. 220.
_________. A
compressão do tempo-espaço e a condição pós-moderna. In: A condição
pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989. Cap. 17, p. 257-276. Disponível em: file:///C:/Users/Cliente/Downloads/DAVID%20HARVEY%20-%20A%20compress%C3%A3o%20do%20tempoespa%C3%A7o%20e%20a%20condi%C3%A7%C3%A3o%20p%C3%B3s-moderna%20(1).pdf
. Acessado em: 18/01/2016.
Paulo Freire. Na voz do mestre, alguns saberes necessários à prática docente. Salto para o futuro - TV Escola,
1997. Disponível em: http://tvescola.mec.gov.br/tve/salto/interview;jsessionid=0642FEB2B9DC17DEA957867CEAA65CD6?idInterview=8368
acessado em: 21/12/2015.
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